REDENÇÃO ESPÍRITA

Autor: Fabiano Armellini
Fonte: www.montfort.org.br


Nome: Mello
Enviada em: 27/12/2003
Local: Arraial do Cabo - RJ,
Religião: Espírita


Para o Espiritismo, a redenção não se dá pelos méritos de Cristo, mas pelo aperfeiçoamento pessoal, sem dependência alguma da Graça de Deus."

Esta foi a resposta que o Sr. deu em um questionamento em 16 de abril de 2000 ao Bruno.

Não concordo quando o Sr. diz que para o Espiritismo não se dá pelos méritos de Cristo, mas pelo aperfeiçoamento próprio. Cristo esta presente sim em nossa redenção quando nos ensina:"Bem-aventurados os que tem puro o caração", "Amar o próximo com a si mesmo", "Amai os vossos inimigos", "Fora da caridade não há salvação", "Sede perfeitos", etc.

Sede, pois, vós outros, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai Celestial.(Mateus, cap V, v 48).

Então o Sr. quer dizer que para Doutrina Católica dependemos somente da Graça de Deus? Independentemente dos nossos atos? Independentemente do nosso aperfeiçoamento?

Por acaso a Doutrina Católica nos ensina algo diferente disso? Ou aperfeiçoamento tem um significado diferente do que conheço?

Aperfeiçoamento - tornar-se perfeito.

Perfeito - executado ou fabricado da melhor forma possível.

Será que se não agirmos da melhor forma possível do que nos foi ensinado por Jesus,somente pela graça de Deus seremos salvos? - acho que foi isso que entendi em sua explicação.

Sei que a doutrina Católica também nos ensina a ser perfeito, ou estou errado?

Gostaria de saber onde o Espiritismo diz que o homem é redentor de si mesmo, independentemente da graça de Deus?

Em uma outra resposta o Sr. diz:" Evangelho segundo Kardec", nunca ouvi falar disto. Conheço "Evangelho segundo o Espiritismo", como conheço "Evangelho segundo Mateus", "Evangelho segundo Marcos", "Evangelho segundo Lucas", "Evangelho segundo João", que estão presentes no Novo Testamento. Quero deixar bem claro que não estou pondo em dúvida os Quatro Evangelhos aqui citados.

Mas entendo que "Segundo" significa "de acordo com", portanto entendo que o evangelho e explicado por Kardec, assim como se o Sr. escrevesse um livro nos explicando os Evangelhos, poderia muito bem se chamar "Evangelho segundo Orlando Fedeli", porque o Sr. nos estaria explicando as sua concepções (atos de formar idéias ) sobre o Evangelho. Ou será que mais uma fez estou errado?

Vejo que Kardec em seu livro "Evangelho segundo o Espiritismo" não vem modificar o evangelho, mas nos explicar o evangelho segundo as suas idéias de Espiritismo.


RESPOSTA

Prezado Mello,

Salve Maria Santíssima.

Você nos afirma que, para o espiritismo, Cristo está presente sim em nossa redenção, mas na condição de mestre, como mero instrutor... e não pelos Seus infinitos méritos. Os méritos da redenção, conforme dizem os espíritas, vêm de nós mesmos.

Triste presunção! Esquece você que Cristo disse: "sem Mim nada podeis fazer" (Jo XV, 5)? Sem a graça de Deus, caro Mello, nada podemos fazer, nem mesmo respirar. O que dizer de nossa dívida infinita para com Deus! Aliás, você sabia que nossa dívida para com Deus é infinita?

E por que seria ela infinita? Explico-lhe resumidamente, caso você já não o saiba: você deve saber que a culpa por uma falta cresce de acordo com a pessoa ofendida. Assim, por exemplo, a culpa por se bater numa criança é menor do que a culpa por se bater numa senhora... que aumenta ainda mais se esta senhora for, por exemplo, minha mãe. Ora, se Deus é infinito, nossos pecados têm culpa infinita, pois são ofensas diretas contra Deus.

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E como você, pobre Mello, pretende pagar a sua dívida com Deus? Você sabia que você não possui méritos infinitos? E que nem que você tivesse um milhão de vidas (ou "encarnações", como vocês dizem), você nunca conseguiria pagar essa dívida? Você entende de matemática? Sabia que ela postula que o somatório finito de elementos finitos tem resultado sempre finito? Então como pretende você com um número finito de "encarnações" pagar, com seus méritos finitos, sua dívida com Deus, que é infinita? Como você quer somar "um monte" de méritos finitos, e querer que daí saia algo infinito, que o justifique perante a Deus?

Matemática complicada essa, não?

Mas é exatamente este absurdo que Kardec e todos os seus seguidores defendem, conforme constatamos nas palavras de Leão Denis, escritor espírita autorizado pela federação espírita brasileira: "Não, a missão de Cristo não era resgatar com o seu sangue os crimes da humanidade. O sangue, mesmo de um Deus, não seria capaz de resgatar ninguém. Cada qual deve resgatar-se a si mesmo, resgatar-se da ignorância e do mal" (Leão Denis, "Cristianismo e espiritismo", p. 88).

Daí a doutrina de Allan Kardec: "Toda falta cometida, todo mal realizado é uma dívida contraída que deverá ser paga; se não for em uma existência, sê-lo-á na seguinte ou seguintes." (Allan Kardec, "O céu e o inferno", 88).

Como conciliar essas palavras às palavras de Cristo: "Isto é o meu sangue (...) o qual será derramado por muitos para remissão dos pecados" (Mt XXVI,28)? Ou então às palavras de São Paulo: "É nele [em Cristo] que temos a redenção pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça a qual ele derramou abundantemente sobre nós" (Ef I, 7)?

Já que você afirma seguir os ensinamentos de Nosso Senhor, comece a seguir esse ensinamento a partir de hoje: que Cristo é o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo, e que é pelos Seus méritos infinitos que somos salvos.

Você nos pergunta em sua carta se nossa redenção independe então de nossos atos. Respondo-lhe que depende sim de vários atos nossos.

Depende, primeiramente, de um ato de humildade para reconhecer-se incapaz de se salvar por si só e reconhecer a Cristo como seu Salvador.

Depende também de um ato de obediência aos Mandamentos de Deus. E também de um ato de obediência a Pedro, a quem Cristo deu as chaves do céu. E também um ato de fé em tudo o que crê e ensina a Igreja que Cristo edificou sobre Pedro. E um ato de caridade para amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, por amor de Deus. E fazer tudo por amor de Deus, e não por amor ao seu "aperfeiçoamento" pessoal.

E há tantos outros atos que Deus exige de nós, a fim de que os méritos de Cristo possam ser aplicados subjetivamente a cada um de nós, pois, se você notar nas palavras de Cristo na última ceia (que eu lhe citei acima), Ele disse que seu sangue seria derramado "por muitos"... e não por todos.

Não que os méritos de Cristo não bastassem para todos, mas porque, subjetivamente, nem todos aceitariam a redenção que Deus nos oferece, e prefeririam, por exemplo, acreditar em sucessivas reencarnações, através das quais uma pessoa obteria sua salvação por seus méritos próprios.

Mas objetivamente falando, os méritos para nossa redenção não vêm de nossos atos, que são finitos e tão manchados pelos nossos amores próprios, mas vêm dos méritos da Paixão e Morte de Nosso Senhor no Calvário.

Entendeu, Mello?

Aproveito a carta para desejar-lhe um Feliz Ano Novo, rogando a Deus para que Ele abra-lhe olhos nesse ano de 2004.

Dos erros do espiritismo, libera nos Domine.

In Iesu et Mariae,
Fabiano Armellini.